O que é a Síndrome de Burnout?
Muito se fala hoje em dia em Síndrome de Burnout. Traduzindo do inglês, burnout significa “estar queimado”, mais ou menos como uma vela que chegou ao fim, não tem mais o que queimar.
Ou seja, um esgotamento, um “fim de linha”. A pessoa que está com burnout sente que não dá mais para continuar. A Síndrome de Burnout se refere ao estado de pessoas que, no trabalho, sentem-se assediadas por uma ansiedade incontrolável, além de outras sensações, como:
- Sobrecarga,
- Exaustão,
- Impossibilidade de chegar às metas,
- Sensações de perseguição agravadas pela incapacidade de atingir essas metas,
- Etc.
E, como todo sintoma psicológico, que não fica só ali onde apareceu, a Síndrome de Burnout acaba afetando a vida inteirinha dessa pessoa, que vai se sentindo fracassada, culpada por não atingir as metas que os outros esperam e que ela mesma espera.
E então resvala, cai para o mal do século: a Depressão.
A pessoa afetada pela Síndrome de Burnout vive dentro de um mundo cinzento, destituído de vida, em que nem ela vive, nem ela permite que os outros vivam. Dentro dessa síndrome, a pessoa não se defronta com ninguém, não olha nos olhos da outra pessoa, ela “passa” pela tangente, poderíamos dizer que é uma espécie de “zumbi” ou de “fantasma”, que pouco se relaciona.
É natural que a Síndrome de Burnout esteja muito agravada pelo cenário de pandemia em que nos encontramos. As pressões psicológicas são muito maiores que anteriormente. Estamos ameaçados por esses vírus potencialmente mortal, não podemos nos aproximar dos outros, não podemos realizar nossos instintos gregários, nossa necessidade de abraços e outras manifestações físicas de afeto, somos obrigados a nos isolar em nossas casas.
E, quando trabalhamos fora, precisamos enfrentar vários perigos de contaminação no percurso. Como resultado de todos esses perigos, nos voltamos para dentro, nos vemos defrontados conosco mesmos. É aflitivo, é o mesmo que enfrentar o leão dentro da sua própria jaula.
Como podemos ser ajudados?
A pessoa com Burnout está em grande sofrimento e precisa ser socorrida. E o psicólogo é o domador que lhe vai dar a mão, para que saia de dentro dessa jaula cheia de perigos e se prepare para ser solta na natureza. Nesse momento, eu entro em cena, não com um chicote e uma cadeira, à maneira dos antigos domadores, mas sim com um jeito de providenciar uma comidinha para o leão, de maneira que ele se satisfaça e vá ficando cada vez mais manso, esquecendo dos seus impulsos agressivos. O leão satisfeito em seus impulsos primários tende a ficar mais afetivo e, então, seu funcionamento físico e psicológico entra em modo “equilibrado”.
Para compreender o que estou dizendo, vamos a um exemplo concreto. Anderson é um rapaz de 27 anos, estagiário dentro de uma multinacional. Procurou-me para atendimento online. Nesta fase de pandemia (estamos em dezembro de 2020), ele trabalha numa multinacional 2 vezes por semana e 3 vezes por semana ele trabalha de casa, online.
Queixa-se de falta de motivação, desânimo, sonolência, baixa autoestima, temor de ser despedido por falta de produtividade e sentimentos de ser perseguido por sua chefe. Queixa-se de uma sensação de paralisia diante dessa problemática. Toda sua maneira de se expressar é monótona, desvitalizada. Raramente faz contato de olhar comigo, sua terapeuta.
Desde o primeiro momento, procuro estabelecer um contato caloroso com Anderson, para que ele se sinta seguro e querido. A partir disso, vai se criando uma conexão afetiva indispensável para que se opere uma transformação no mundo interior dele. Aos poucos, vão surgindo as oportunidades, nessa conexão afetiva, através do diálogo terapêutico, dele ir se sentindo melhor, de acreditar mais em si mesmo e em sua capacidade de tomar as rédeas de sua própria vida. Nesse processo, eu vou desempenhando o papel em mim projetado daquela figura materna capacitada para consertar suas feridas afetivas e proporcionar para ele o acolhimento do qual ele precisa tanto.
Um recurso fundamental no tratamento de Anderson é a possibilidade de entrar no Nível Aprofundado de Consciência, através de um relaxamento muscular que conduz seu cérebro à faixa Theta, em que suas células passam a oscilar a um ritmo entre 4 e 7 hertz. Uma vez ali, entramos numa “viagem” denominada Imaginação Ativa, em que Anderson vai imaginando e vendo coisas, guiado por sua própria memória emocional. E eu, como terapeuta, estou ali ao lado dele, acompanhando-o nessa “viagem” e, às vezes, ajudando para que essas imagens e ideias possam ser compreendidas, sentidas e positivadas.
Por exemplo, ele se vê defrontado com sua chefe, sentindo-se rejeitado, desvalorizado e cobrado. Logo procuro mostrar a ele o quanto essa cena reproduz algumas cenas da sua infância, em que ele se sentia rejeitado e excluído por seu pai. Ele então é conduzido a enxergar nesse pai rejeitador uma criança ferida que agride para se livrar desse sentimento doloroso. É também conduzido a enxergar na sua chefe essa mesma criança ferida que assume uma máscara cheia de raiva, para se defender. Depois, vamos visualizando Anderson reagindo, mostrando ao seu pai e ao seu chefe o seu valor, e, finalmente, direcionando aos dois a energia protetora da qual eles precisam.
Tais exercícios psicológicos, dentro do Nível Aprofundado de Consciência, têm grande poder transformador, no sentido de esvaziar o mundo interior do paciente de sensações e sentimentos dolorosos, que, aos poucos, vão sendo substituídos por sensações e sentimentos de bem estar e liberdade, conduzindo-o àquilo que é sua felicidade interior.
Quando o paciente chega aí, ele se reconhece, ele sente que chegou à sua verdade interior, ao seu “normal”. É por isso que hoje em dia o autoconhecimento é tão valorizado. Justamente porque conduz a esse estado interior de felicidade que independe de tudo que é externo.
Automaticamente, Anderson vai levando esses exercícios para o seu dia a dia, aprendendo, aos poucos, a tornar a sua vida um grande programa de exercícios, em que vai evoluindo, fortalecendo-se e tomando as rédeas do seu cavalo, tornando-se cada vez mais dono das situações.
E assim, aos poucos, Anderson vai se libertando daquilo que anteriormente eram suas queixas e vai descobrindo uma nova maneira de se colocar diante do mundo, bem mais feliz e empoderada. Assumindo cada vez mais sua condição humana, tão rica em possibilidades, dentro da qual ele pode exercitar seus potencias vitais, afetivos e criativos.
Podemos ver, através desse exemplo, como uma Síndrome de Burnout, quando compreendida através de uma terapia, pode tornar-se uma fonte de autoconhecimento e libertação. Isso nos leva a outros exemplos de como outros sintomas psicológicos podem nos conduzir a novos patamares de enriquecimento da nossa vida emocional.
Referências Bibliográficas:
JUNG, Carl Gustaf – Obra Completa, 33 vols. – Ed. Vozes. Petrópolis, 2020.
NANTE, Bernardo – O Livro Vermelho de Carl Gustaf Jung. Chaves para a compreensão de uma obra –
Ed. Vozes. Petrópolis, 2020.
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